Capítulo 2 - Novos caminhos

Oliver não percebera exatamente o momento em que sentou no chão e começou a cochilar. Estava envolvido com toda dedicação em sua missão, com toda sua alma. Não percebera que ele estava indo além de seus limites até o enfermero falar consigo. - Hã? Dizia um pouco confuso ainda. - Talvez não seja tão ruim descansar um pouco, hehe. Sua risada estava impregnada de puro sono, na verdade, parecia que seu corpo todo estava em piloto automático e logo quando visse algum lugar para descansar, desmaiaria. - Obrigado por vir até mim, os deuses certamente te chamaram ao meu favor Falava enquanto se esforçava para levantar com todo o peso que o sono lhe trouxera.

- Hehehe riu o homem, achando graça da postura de Oliver. - Talvez, talvez... Venha, eu vou te levar pra sala do cochilo. O homem então ofereceu a mão para ajudar Oliver a se levantar.

Oliver seguiu a sombra do homem por alguns longos e claros corredores. Depois de algum tempo, o homem abriu uma porta. A sala era grande, e alguns médicos e enfermeiros já ocupavam alguns lugares. As luzes estavam acessas, mas não pareciam incomodar os que, provavelmente, tiveram uma longa noite de trabalho.

Sofás, almofadas, colchões improvisados, roupas e uma estante de livros preenchiam o ambiente com um toque de "Socorro, alguém me arrume".

- Pode deitar... Onde quiser.

Oliver deitou sem nem pensar duas vezes nos colchões improvisados e do modo que se deitou alí mesmo adormeceu.

Erick possuía um crachá assinado pelas próprias mãos de Seras, com carimbos e tudo mais que um documento oficial tem direito - mesmo que tal crachá servisse para algo tão simples. Após alguns dias lendo sobre seus futuros aliados, Erick partiu para o local onde, supostamente, encontraria um dos membros de seu futuro grupo. Chegando lá, o crachá fez com que as pessoas certas o direcionarem até uma sala onde um filho das estrelas se perdia em meio à almofadas, a sala ainda abrigava mais dois funcionários do hospital, que, não tão disformes quanto Oliver, dormiam em camas improvisadas.


- Oliver. Disse o enfermeiro que levou Erick até o local, segurando o braço de Oliver, que parecia não fazer parte do corpo do garoto, chacoalhando o mesmo um pouco, na esperança de aquilo ainda possuir um pouco de vida. - Acorde, o almoço está sendo servido. E esse garoto quer falar com você. Agora, apontava para Erick.

- Oliver White? É um prazer conhece-lo. Meu nome é Erick Williams e vim conhece-lo pessoalmente. - Apresentava-se cordialmente enquanto esperava o jovem à sua frente sitiar-se completamente da sua presença ali.

Oliver ouviu Eirck aos bocejos e espreguiçamentos devido sua longa jornada no dia anterior.

- Me desculpe por isto, os deuses me deram um trabalho e dei tudo de mim para poder completá-lo ontem. Eu sou Oliver White sim, mas conhecer pessoalmente? Os deuses falaram de mim à você? Falava um tanto surpreso com as palavras do novo conhecido, ainda com a "cara amassada" de sono e ao final das palavras, soltando seu sorriso marcante.

- Não foram bem eles, mas algumas pessoas me falaram bem de você. Então vim ver com meus próprios olhos. - Dizia de modo simples para que o garoto recém acordado o compreendesse perfeitamente. - De tudo, parece que sua devoção aos deuses é realmente notável e verídica, além de parecer que também é inata. Seus pais com certeza devem estar orgulhosos pelo seu esforço em seguir o caminho dos deuses.-

Depois de ter feito seu ritual para de fato acordar enquanto ouvia Erick, dizia: - Os deuses trabalham de maneira sutil, meu amigo! Fico feliz que tenha notado minha devoção, minha família de fato é muito devota aos deuses e eu só espero seguir um caminho o façam os deuses se orgulharem! Bom, espero não desapontar suas expectativas quanto ao que falaram sobre mim. A diretora Hu também falou com você? Dizia fitando os olhos de Erick.

Oliver olha com uma feição pensativa e diz: - Hm... Entendo. Sim, na verdade foi ela quem me direcionou para o trabalho que venho fazendo aqui, mas me diga... Fez uma pausa, afim de respirar e dizer as próximas palavras com a maior delicadeza possível - Qual é o motivo de você ter vindo me conhecer pessoalmente? Acredito que você não veio pedir um autógrafo,eu sou desprovido de fama. Sorriu. - Pensando bem, eu só sei seu nome porque você me falou e você sabe até sobre o meu histórico familiar. Sei que os deuses estão por trás disto tudo, mas quem são estas "algumas pessoas" que falaram sobre mim?  

A cara fechava e ficava com um semblante muito sério. Em seguida, o jovem começava a contar:- Sou de um grupo de adoradores dos seres obscuros inferiores. Precisamos de um sacrifício e você foi escolhido após estudos delicados. -

Alguns segundos se passaram até que o rosto de Williams finalmente relaxou e um grande sorriso apareceu em seu rosto. - Não, estou brincando. Não é essa a razão. Acontece que eu irei para a ECG, assim como você, e dada a natureza do trabalho dos meus pais e o meu próprio eu consegui, com um pouco de paciência, as fichas de novos ingressantes. Assim posso checa-los e ver como estão indo para evitar problemas entre os novos alunos. - O jovem explicava. - Talvez deveria se acostumar com o sentimento de tensão que deve ter sentido durante a brincadeira... Soube que as coisas são difíceis por lá e seria bom ter alguns amigos logo de cara. -

Oliver não esboçou reação alguma até chegar a parte de que ele iria para a ECG. - Espera um instante, eu vou pra ECG? Não prestou atenção em mais nada após isto. - Finalmente! Os deuses ouviram meu clamor! Muito obrigado, Erick Williams. Você foi instrumento dos deuses para enviar a mensagem deles à mim! Com toda certeza seremos amigos. Os deuses nos ajudarão em qualquer situação difícil! Dizia maravilhado com a virada inesperada de sua situação. - Quanto tempo falta para nós ingressarmos? Se você tiver planos de conhecer novos integrantes, eu irei com você!

- No momento todos estão em suas respectivas casas e muitos outros ainda estão se aprontando para poderem vir. Mas isso é curioso... Acredito que já deveriam ter notificado os futuros ingressantes.- Disse o garoto, pensativo. - De qualquer forma, ainda temos muito pela frente até entrarmos oficialmente na ECG e você deveria se preparar. Lá é bem complicado, mas podemos ir conversando com o tempo. - Dizia complementando.

- Agora, você deve estar com fome e não podemos deixar as enfermeiras esperando-o para almoçar, não é? -

- Como disse a pouco, o almoço está pronto, é só seguir as placas nos corredores que vocês chegam lá. Interferiu o enfermeiro que estava ao lado dos garotos, prestando atenção na conversa deles. - Vou me retirar, preciso checar o estado de alguns pacientes. Até mais. Então, virou-se e começou a se retirar da sala.

- Você o ouviu, Oliver. Vamos indo antes que você desmaie novamente, de fome dessa vez. - Brincava o jovem.

- Hahahaha. Vamos! Estou morrendo de fome agora que parei pra pensar! Segue em direção ao refeitório com um sorriso largo no rosto.

O sono se despedia de Oliver de uma maneira saudosa e tristonha. Seu corpo ainda estava cansado e precisava de mais uma ou duas horas de sono.

Os corredores, largos e movimentados, já que ali aparentava ser a ala dos funcionários do hospital, com equipamentos sendo levados e trazidos a todo momento, levaram os garotos ao refeitório em menos de um minuto.

Apesar de o almoço ter sido servido a pouco, o refeitório já estava bem vazio, com vários pratos sujos empilhados em uma espécie de balcão que ficava entre uma pia e uma porta aberta, que mostrava uma cozinha um pouco caótica e suja, ao fundo do salão. Ao centro do ambiente, uma mesa, maior e mais alta do que as outras, servia de apoio para pratos, talheres, algumas jarras de suco, copos e panelas, rodeada por outras mesas e bancos desorganizados, que faziam com que a decoração do ambiente combinasse com a do resto do hospital, demonstravam muito zelo, mas a correria do local não deixava que nada ficasse perfeitamente limpo/organizado.

O enfermeiro que estava com os garotos indicou uma pequena pia para os garotos, onde foi lavar suas mãos. Após isso, serviu-se e sentou na mesa mais próxima, esperando que os garotos se sentassem.

Quando os dois o fizeram, ele perguntou: - Vocês agradecem?

O jovem lava suas mãos na pia indicada pelo enfermeiro.
- Agradecer às pessoas que cozinharam, cultivaram e forneceram nosso alimento... À eles eu certamente agradecerei. - Dizia com um pequeno sorriso no rosto. - Agora se pergunta se agradecerei aos deuses pela comida... Não, não o farei. - Dizia o jovem sério e convicto de seus ideiais.

- Posso agradece-los pela saúde que abençoaram a seus filhos e seguidores, mas não posso dar-lhes crédito completo pelo trabalho duro das pessoas envolvidas nisso. -

Oliver observa a a rápida cena com um sorriso no rosto e diz - Oh sim. É sempre bom ter uma oportunidade de agradecer aos deuses por nos dar esta terra e poder colher, plantar e fornecer o alimento. Com certeza se não fossem por eles, não teríamos nem mesmo nossa vida. Falava com o coração sincero. - Concordo com você, Erick. Todos devem trabalhar duro, se não, o dom da vida teria sido um presente desperdiçado que os deuses tão bondosamente nos deram!

Com os preparativos para o almoço prontos e mãos lavadas, Williams dava inicio à refeição, pegando a comida servida e sentando-se em uma das mesas mais organizadas e limpas que se podia encontrar.- De fato Oliver. Mas dizer até onde agradece-se os deuses e onde começa-se a agradecer as pessoas é algo que filósofos e teólogos discutem a muito tempo e ainda não parece ter um acordo completo entre ambas as partes. O que podemos fazer para agradar os dois lados é agradecer Deuses e pessoas igualmente, por terem parte do crédito pelo feito de qualquer maneira. -

- Erick, se uma gota do rio que forma a vontade dos deuses em nossas vidas for retirada do mesmo, não seriamos capazes sequer de respirar. Interviu o enfermeiro.

"Fanático religioso... Manipulador ou manipulado, agora não importa. Não vou sequer tentar discutir teologia com alguém que já fechou a mente em uma única ideia, ainda mais uma que faz tão pouco sentido." Pensava o jovem enquanto o enfermeiro intervinha. -Realmente... Neste aspecto acredito que tenha razão. Os Deuses são generosos quanto ao dom da vida.-